segunda-feira, 10 de agosto de 2009

MINHAS RAÍZES




 As nossas raízes, quase sempre, ficam debaixo da terra, onde ninguém as possa ver, são anônimas e invisíveis diante dos nossos olhos. Todavia, às minhas estão tão vivas... 
Hoje, aqui estou para torná-las conhecidas de todos vocês. Por que as minhas raízes... eu jamais as esqueci.
Duas pessoas vindas de regiões diferentes; uma cruzou os mares, atravessou continentes e, como simples imigrante, aqui chegou; o outro, sendo natural daqui mesmo, vindo de uma grande cidade maravilhosa, pelo menos no visual, e tão desesperançada e cruel na realidade.
Ele abandonou a casa materna e, aos nove anos de idade, saiu a perambular pelo mundo afora, sem bagagens e sem documentos. Sofrendo todo tipo de discriminação.
O encontro de ambos deu-se no interior de São Paulo.
Dessa união surgiram onze filhos, sendo que três deles ficaram pelo meio do caminho, vítimas de doenças banais.
Os dois passaram as maiores dificuldades, sem jamais desanimar e, nem tampouco, deixar de lutar.
Trabalharam na lavoura com muita perseverança e resignação, sempre almejando o melhor para os seus filhos e para os seus bons amigos.
Vieram para São Paulo, com a esperança de melhores dias. Com esforço redobrado e, passando muitas vicissitudes, adquiriram um terreno num lugar inóspito e despovoado.
Naquele rincão, trabalhando, lado a lado, construíram um cômodo feito com tijolos e barro.
Foram os primeiros moradores daquele lugarejo, que hoje é uma bonita vila chamada “Guilhermina”
Um homem que honrava as palavras dadas, que não demonstrava seus sentimentos através de carícias, mas pelas suas ações. Ele sempre enfrentou tudo de cabeça erguida. Foi um brilhante contador de histórias.
E aquela mulher de pequena estatura, mas dotada de grande determinação, não poupou esforços, para criar os seus oito filhos, mesmo quando seu esposo ficou doente.
Ela foi à pessoa mais extraordinária e fascinante que eu conheci, ao longo de toda a minha vida. Possuidora de um discernimento ímpar e uma acuidade incomparável.
Cuidou de sua mãe enferma num leito por dezessete anos, sem nenhum auxílio de quem quer que fosse, com muito carinho e dedicação.
Esses foram os seus pais. Ele um sujeito bonachão, simples e tranquilo. Ela, uma autêntica cigana, com uma língua ferina, rica em sinônimos; insuperável em qualquer contenda.
Ah! Como eu agradeço-lhe, minha mãe, querida, por cada pancada desferida e cada palavra proferida. Uma despertou os meus melhores sentidos, a outra, a minha capacidade de reflexão, diante da vida.
Tanto a minha mãe, quanto o meu pai ensinaram-me e, também, aos meus irmãos, a importância de ter honradez, firmeza de caráter, equanimidade e solidariedade com todos.
Por todos os meus dias, serei eternamente grato a Deus, por ter-me concedido pais tão dedicados e inigualáveis.
Vocês, meus pais, vão para sempre habitar no meu coração.
Aonde quer que estejam, todos os meus pensamentos estão em vocês. Fiquem em paz.
Trago nas minhas veias o sangue bendito de ambos.
O sangue das minhas duas queridas raízes.
Texto:Nelson Barh