quarta-feira, 12 de agosto de 2009

CRÍTICA 'NOSSO LAR'

Vou tecer alguns comentários referentes à peça “Nosso Lar

baseada na obra de Chico Xavier

Em cartaz no Teatro Itália

Trata-se de uma peça espírita, cuja temática gira em torno da vida

após a morte, ou seja, os caminhos que os espíritos deverão percorrer,

ou ainda, os vários planos que seguirão até que atinjam um grau mais

elevado.A história, a rigor, mais parece um conto de fadas, um faz-de-conta,

haja vista que num lugar onde não existe corpo físico, possa haver

vassoura, sujeira, lençóis, exspuição de babas negras pelos espíritos

e doentes tendo suas feridas limpas nas enfermarias, que nada mais

são do que todas elas coisas materiais. Em outro momento da peça,

temos (talvez seja uma liberdade teatral) uma ligeira alusão, creio,

a figura de Allan Kardec, como sendo governador do “Nosso Lar”

há 140 anos. (1864+140=2004); todavia prefiro não emitir outros

comentários, nem questionar a referida obra, e respeitar a crença

de cada um.

A montagem da peça é bem simples, sem a utilização de cenários,

nem mobília, os vários lugares são sugeridos pela simples apresentação

de slides; o guarda roupa, ou seja, as vestes dos atores, são roupas

convencionais do quotidiano. O ator que representa o personagem

André Luiz atua também como narrador da história. Os diálogos

são rápidos, sem ritmo, as falas, com raríssimas exceções, são

cuspidas sem nenhuma pausa pelos atores, como se os mesmos

quisessem se desvencilhar, rapidamente, do texto; temos ainda

os gritos, cambalhotas e gestos patéticos dos atores, que chegam

a relembrar vagamente a estética de Artaud, em "busca de uma

ascese purificadora", todavia o efeito chega quase a ser desastroso.

Objetivando transformar o livro numa peça teatral, o adaptador

abordou os principais temas, mas sintetizou de tal maneira o

livro, que quase o descaracterizou. Em linhas gerais, o livro é

melhor do que a peça. Há momentos no espetáculo que mais

parece um curso de oratória de vários palestrantes, do que de

fato, diálogos entre personagens de uma peça teatral.

A atriz que representa a fazendeira escravocrata é quem tem a

melhor atuação teatral. A iluminação é bastante deficiente.

Na minha cotação, o espetáculo é fraco quase no geral,

salvaguardando apenas a atuação da referida atriz e da sonoplastia,

que não comprometem em nada o espetáculo.

Recomendo que todos leiam a obra “Auto da Barca do Inferno”

de autoria de Gil Vicente.

Texto: Nelson Barh