Vou tecer alguns comentários referentes à peça “Nosso Lar”
baseada na obra de Chico Xavier
Em cartaz no Teatro Itália
Trata-se de uma peça espírita, cuja temática gira em torno da vida
após a morte, ou seja, os caminhos que os espíritos deverão percorrer,
ou ainda, os vários planos que seguirão até que atinjam um grau mais
elevado.A história, a rigor, mais parece um conto de fadas, um faz-de-conta,
haja vista que num lugar onde não existe corpo físico, possa haver
vassoura, sujeira, lençóis, exspuição de babas negras pelos espíritos
e doentes tendo suas feridas limpas nas enfermarias, que nada mais
são do que todas elas coisas materiais. Em outro momento da peça,
temos (talvez seja uma liberdade teatral) uma ligeira alusão, creio,
a figura de Allan Kardec, como sendo governador do “Nosso Lar”
há 140 anos. (1864+140=2004); todavia prefiro não emitir outros
comentários, nem questionar a referida obra, e respeitar a crença
de cada um.
A montagem da peça é bem simples, sem a utilização de cenários,
nem mobília, os vários lugares são sugeridos pela simples apresentação
de slides; o guarda roupa, ou seja, as vestes dos atores, são roupas
convencionais do quotidiano. O ator que representa o personagem
André Luiz atua também como narrador da história. Os diálogos
são rápidos, sem ritmo, as falas, com raríssimas exceções, são
cuspidas sem nenhuma pausa pelos atores, como se os mesmos
quisessem se desvencilhar, rapidamente, do texto; temos ainda
os gritos, cambalhotas e gestos patéticos dos atores, que chegam
a relembrar vagamente a estética de Artaud, em "busca de uma
ascese purificadora", todavia o efeito chega quase a ser desastroso.
Objetivando transformar o livro numa peça teatral, o adaptador
abordou os principais temas, mas sintetizou de tal maneira o
livro, que quase o descaracterizou. Em linhas gerais, o livro é
melhor do que a peça. Há momentos no espetáculo que mais
parece um curso de oratória de vários palestrantes, do que de
fato, diálogos entre personagens de uma peça teatral.
A atriz que representa a fazendeira escravocrata é quem tem a
melhor atuação teatral. A iluminação é bastante deficiente.
Na minha cotação, o espetáculo é fraco quase no geral,
salvaguardando apenas a atuação da referida atriz e da sonoplastia,
que não comprometem em nada o espetáculo.
Recomendo que todos leiam a obra “Auto da Barca do Inferno”
de autoria de Gil Vicente.
Texto: Nelson Barh