Como é engraçado...! Há poucos instantes atrás eu
estava refletindo acerca da vida, sem saber que a história estava próxima de
chegar ao fim.
Ah, se eu pudesse agora voltar no tempo, tudo seria
tão diferente... Por certo, eu seria muito mais tolerante e amigo e bem menos
critico com todos ao meu redor. Ah,
como eu valorizaria cada momento vivido!
Celebraria a grandiosidade da Mãe Natureza. Abençoaria
o frio, o calor e a chuva. Contemplaria, emocionado, a beleza deslumbrante das
flores, o resplendor das estrelas na imensidão do firmamento.
Agradeceria, todos os dias, pela noite de sono
tranquila, pela água ingerida, pela fome saciada, pelo agasalho vestido, pelo
despertar de um novo amanhã.
Caminharia, sem pressa alguma, pelas ruas, observaria
os transeuntes e o enigmático céu azul; sentiria os raios do majestoso sol aquecendo o meu corpo magro e doente;
saborearia o prazer de estar vivo neste mundo.
Esqueceria todas as magoas e ajudaria os meus irmãos
aflitos da Terra, nem que fosse com um gesto, uma palavra, um sorriso, um
abraço ou uma pequena mensagem de afeto.
Conversaria muito mais com as pessoas, não teria
vergonha de dar o primeiro passo e
demonstrar os meus melhores sentimentos.
Deixaria de lado as preocupações constantes com casa, contas,
dinheiro, objetos e outras ninharias. Evitaria vícios, brigas, ódios, ofensas e
disputas.
Não olharia tanto para o futuro. Nem teria tanto medo
do desconhecido. Dormiria menos. Sorriria mais. Sofreria menos. Amaria, muito
mais.
Estenderia a minha mão amiga e perdoaria até os meus
piores inimigos. Por certo eu seria bem melhor do que era antes.
Infelizmente, parece que somente agora aprendi a
viver...no grande teatro da vida.
Apesar dos erros e acertos, sei que fui um bom filho,
bom irmão, bom amigo. Agora, aqui estou aguardando o tão fatídico dia.
Todavia, se meus pais, irmãos e amigos tiveram que
provar o gosto amargo da imensa escuridão, por que devo então lamentar a
inevitável partida? Bem ou mal, eu também vivi!
Eis chegada a hora. O momento é difícil, mas não há o
que fazer. Não há como voltar...é o caminho que devo seguir.
Agora começo a sentir em meus pés ondas de calor intensas, que sobem por todo o meu corpo e vão cedendo lugar ao frio permanente.
Agora começo a sentir em meus pés ondas de calor intensas, que sobem por todo o meu corpo e vão cedendo lugar ao frio permanente.
A águia vai
alçar vôo. Já podem fechar as cortinas.
Texto: Nelson Barh