quarta-feira, 16 de maio de 2012

O vôo noturno da águia


Como é engraçado...! Há poucos instantes atrás eu estava refletindo acerca da vida, sem saber que a história estava próxima de chegar ao fim.
Ah, se eu pudesse agora voltar no tempo, tudo seria tão diferente... Por certo, eu seria muito mais tolerante e amigo e bem menos critico com todos ao meu redor.       Ah, como eu valorizaria cada momento vivido!
Celebraria a grandiosidade da Mãe Natureza. Abençoaria o frio, o calor e a chuva. Contemplaria, emocionado, a beleza deslumbrante das flores, o resplendor das estrelas na imensidão do firmamento.
Agradeceria, todos os dias, pela noite de sono tranquila, pela água ingerida, pela fome saciada, pelo agasalho vestido, pelo despertar de um novo amanhã.
Caminharia, sem pressa alguma, pelas ruas, observaria os transeuntes e o enigmático céu azul; sentiria os raios do majestoso  sol aquecendo o meu corpo magro e doente; saborearia o prazer de estar vivo neste mundo.
Esqueceria todas as magoas e ajudaria os meus irmãos aflitos da Terra, nem que fosse com um gesto, uma palavra, um sorriso, um abraço ou uma pequena mensagem de afeto.
Conversaria muito mais com as pessoas, não teria vergonha de dar o primeiro passo  e demonstrar os meus melhores sentimentos.
Deixaria de lado as preocupações constantes com casa, contas, dinheiro, objetos e outras ninharias. Evitaria vícios, brigas, ódios, ofensas e disputas. 
Não olharia tanto para o futuro. Nem teria tanto medo do desconhecido. Dormiria menos. Sorriria mais. Sofreria menos. Amaria, muito mais.
Estenderia a minha mão amiga e perdoaria até os meus piores inimigos. Por certo eu seria bem melhor do que era antes.
Infelizmente, parece que somente agora aprendi a viver...no grande teatro da vida.
Apesar dos erros e acertos, sei que fui um bom filho, bom irmão, bom amigo. Agora, aqui estou aguardando o tão fatídico dia.
Todavia, se meus pais, irmãos e amigos tiveram que provar o gosto amargo da imensa escuridão, por que devo então lamentar a inevitável partida? Bem ou mal, eu também vivi!
Eis chegada a hora. O momento é difícil, mas não há o que fazer. Não há como voltar...é o caminho que devo seguir.
Agora começo a sentir em meus pés ondas de calor intensas, que sobem por todo o meu corpo e vão cedendo lugar ao frio permanente.
A águia  vai alçar vôo. Já podem fechar as cortinas.
Texto: Nelson Barh