quinta-feira, 12 de novembro de 2009

MISSÃO CONCLUÍDA


Sou apenas um homem, em presença de Deus, em busca da derradeira esperança, antes da partida final.
Sou o menino inocente que ousou querer mudar o mundo.
Sou o menino que acordou dos sonhos de fantasias
e enfrentou os ferozes e poderosos abutres carniceiros.
Aquele que desafiou os exploradores da fé e os falsos políticos
Sou espelho de uma bela geração dourada, tão desconsolada e
perdida.
Alguém que jamais temeu diante do perigo. Que sempre valorizou a vida.Sou o eterno amigo de tantas mensagens esquecidas... E que agora caminha de encontro à inevitável, profunda e sempre triste escuridão.
Foram tantas as provas, mágoas e dores que senti.Nunca esmoreci. Recebi dos céus a Luz divina.Ofertei a todos o meu amor maior.Fui fonte e chama envolvente.
Rejeitei o fanatismo, a louca paixão. Resgatei a verdade histórica. E aqui, na Terra, não importa se nunca ganhei ou se aparentemente perdi.
Como caminhar às cegas, em busca de um porto seguro, quando tudo parece tão sem sentido, tão impuro?
Talvez melhor seria partir, agora, sem dizer adeus, seguir sozinho, sem nem ao menos chorar a iminente despedida.
Onde encontrar explicação para vida que ora se esvai?..Terei que acreditar em mentiras?Que trilhar estradas desertas; frequentar igrejas vazias ou repletas de crédulos, todos os dias?
Sou o último rebento que restou das supremas e fortes raízes, mas o único que se rebelou contra a podridão do mundo, em todos os seus dias.
Superei a triste solidão.Compreendi a sombria e amarga velhice. Dei alento aos desesperados. Chorei lágrimas de sangue ao lado dos injustiçados.
Desacreditei de tudo e de todos e... encontrei Deus na bonita e feia Natureza. Matei o tempo e fui alvejado, cruelmente, por ele.
Abominei milagres, rezas e ofícios. Exaltei as boas ações. Glorifiquei a vida e acolhi com resignação e ternura a temível e tão necessária morte.
Como buscar consolo no desconhecido, sem vislumbrar um norte, um horizonte? Como posso querer permanecer por aqui? Se entre um vão e outro vão, muitos são aqueles que se vão...
Creio que a minha dolorida e insana missão foi finalmente cumprida.Deixo de ser águia e guia.
Não resta nada mais a fazer aqui. Já posso seguir...
Fim
Texto: Nelson Barh